Rio -  Após uma maratona que começou às 20h de sábado e só terminou às 6h deste domingo, Viradouro, Inocentes de Belford Roxo e Império Serrano foram as melhores na Avenida e agora vão brigar pelo título do Grupo de Acesso A. A Cubango, última da noite, também se apresentou muito bem e corre por fora. Na outra ponta da tabela, Paraíso do Tuiuti e Acadêmicos de Santa Cruz decepcionaram e vão brigar para não serem rebaixadadas.

Sexta escola a pisar na Sapucaí, a Viradouro empolgou o Sambódromo ajudada pelo belíssimo samba-enredo que exaltava a história do escritor Nelson Rodrigues. Com criatividade e clareza, a vermelho e branco de Niterói foi a primeira a arrancar gritos de "É campeã" das arquibancadas. Um dos destaques foi a garra da comunidade que cantou o samba a plenos pulmões.
 

Juliana Paes desfilou perto da comissão da frente | Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia
Juliana Paes desfilou perto da comissão da frente | Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia
A atriz Juliana Paes, ex-rainha de bateria, desfilou à frente da escola usando um vestido vermelho e foi bastante aplaudida pelo público. Representando a família do homenageado, Nelson Rodrigues Filho desfilou perto da comissão de frente.
O ápice do desfile, no entanto, foi a atuação arrebatadora da bateria de Mestre Pablo. Com fantasia de árbitro de futebol, o grupo exibiu diversas paradinhas e levou as arquibancadas ao delírio.


A atriz Monique Alfradique estreou bem no posto de rainha e cantou o samba de verdade. Mestre Pablo, também vestido de juíz, entrou no clima do enredo e usou cartões vermelhos e amarelos para sinalizar as bossas. Uma bela sacada. 

O carnavalesco Alexandre Louzada acertou ao abusar do uso da teatralização nas alegorias. A tática ajudou na compreensão do tema. As fantasias, que não traziam luxo, primaram pela criatividade e também contribuíram para um bom conjunto visual.
Império emociona com desfile sobre Dona Ivone Lara
Sem vencer no Grupo Especial há 30 anos, o Império Serrano entrou com a responsabilidade de dar as flores em vida para Dona Ivone Lara. E o resultado não poderia ser melhor. Diante de uma plateia eufórica, a escola da Serrinha fez uma apresentação emocionante e contou a história da maior compositora de samba do Brasil de forma brilhante. Um dos autores do samba, Arlindo Cruz desfilou em cima do carro de som e ajudou a dar o grito de guerra.
A comissão de frente foi comandada por Carlinhos de Jesus. A bateria de Mestre Gilmar, conhecida como a Sinfônica do Samba, deu show e empolgou bastante. Baluarte da escola e bateria de Chico Buarque, Wilson das Neves desfilou à frente do grupo usando terno. A noite serviu de estreia para a rainha de bateria Flávia Pianna, que usou uma fantasia comportada.
Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia
Dona Ivone desfilou no último carro | Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia
Concebidas por Mauro Quintaes, as alegorias lembraram a história da sambista com requinte e clareza. Um dos destaques foi o terceiro carro, que representava "Os cinco bailes da história do Rio", título do samba-enredo composto por Dona Ivone em 1965. Pianistas suspensos tocavam sob casais que faziam passos de minueto.
O quarto carro trouxe diversos artistas identificados com a obra da Rainha do Samba, entre eles Alcione, Tia Surica, Moacyr Luz, Mart'nália, Elza Soares e Délcio Carvalho. A alegoria abriu passagem para a grande homenageada que desfilou sentada numa espécie de trono na quinta alegoria. Perto de completar 91 anos, Dona Ivone foi aplaudida do início ao fim do desfile. Emocionada, a sambista retribuiu o carinho do público acenando e sorrindo, protagonizando um momento histórico. A alegoria também trouxe uma escultura de Joãosinho Trinta fantasiado de gari, lembrando o desfile da Beija-Flor de 1989.
Inocentes exalta a cidade de Corumbá
Quarta escola da noite, a Inocentes de Belford Roxo exaltou a cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Com alegorias bem acabadas e fantasias luxuosas, a escola criou um belíssimo espetáculo visual, com destaque para o difersificado uso das cores nos setores, mérito do carnavalesco Wagner Gonçalves. Outro destaque foi a atuação do intérprete Thiago Britto, que fez sua estreia na agremiação da Baixada. 
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Abre-alas da Inocentes chamou a atenção pela imponência | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
O jovem cantor comandou o carro de som com segurança e esbanjou força. Os componentes, no entanto, pecaram no quesito empolgação. Muitos não sabiam cantar o samba-enredo, considerado um dos melhores da safra do Grupo de Acesso. Mesmo assim, após anos de desfiles irregulares, a Inocentes finalmente pode sonhar com o título. 
A Rocinha levou para a Sapucaí o enredo mais interessante da noite: a importância das praças na vida das pessoas. O que parecia uma missão difícil foi conseguido com fantasias simples, mas de fácil leitura e alegoria bem definidas. O carnavalesco Luis Carlos Bruno mostrou talento e ousadia ao apostar na simplicidade para contar uma boa história. 
Pelo segundo ano consecutivo, o Império da Tijuca fez uma grande apresentação. O enredo que falava de lugares imaginários citados na literatura foi contado de maneira eficiente e com a marca do talento do carnavalesco Severo Luzardo. A bateria de Mestre Capoeira brilhou e foi aplaudida pelo público.
Última da noite, a Cubango contou a história do Barão de Mauá. Com o samba-enredo na ponta da língua, os componentes deram show de empolgação e ajudaram a escola a fazer um bom desfile, costurado pelo belo conjunto de alegorias criado pelo carnavalesco Jaime Cezário. Praticamente sem erros, a verde e branco, que nunca esteve no Grupo Especial, também pode sonhar.
Estácio homenageia Luma, mas deixa a desejar
A Estácio de Sá homenageou o Carnaval carioca e Luma de Oliveira. O desfile, no entanto, pecou pela falta de criatividade e ousadia. Apesar do luxo das fantasias, o enredo não passou sua ideia com clareza e ficou burocrático. Luma desfilou na última alegoria bastante empolgada e cantando o samba-enredo. A imagem contrastou com a de seus filhos, Thor e Olin, que também desfilaram na alegoria, mas sem nenhum entusiasmo. Não sabiam cantar o samba e passaram a impressão de que estavam ali obrigados.
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Olin (E) e Thor não sabiam cantar o samba | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
A Santa Cruz também decepcionou. Com um enredo em homenagem ao radialista Antônio Carlos, da Rádio Globo, a verde e branco da Zona Oeste teve dificuldades para passar a mensagem do tema. A ideia era contar a história do rádio e terminar com uma ode a Antônio Carlos. O resultado, no entanto, foi um desfile confuso e sem grandes destaques. 
Tuiuti tem problemas com carro
Primeira a desfilar, a Paraíso do Tuiuti teve problemas logo no ínicio. O abre-alas, composto por dois carros acoplados teve problemas em sua estrutura e custou a entrar, causando tensão nos diretores de harmonia. A demora da alegoria abriu um clarão na Avenida, dificultando a passagem da escola.
Foto: Raphael Azevedo / Agência O Dia
Abre-alas do Tuiuti teve dificuldades para andar e um clarão se abriu | Foto: Raphael Azevedo / Agência O Dia
Com o enredo em homenagem à cantora Clara Nunes, a escola de São Cristóvão não conseguiu empolgar o público, que ainda chegava ao Sambódromo. A exceção ficou por conta da Rainha da Bateria, Scheila Carvalho. Exibindo sua boa forma, a ex-integrante do É o Tchan arrancou aplausos do público presente. 
Duas escolas penalizadas
Duas agremiações foram penalizadas no Grupo A. O Império Serrano terá que pagar uma multa no valor de 20 salários mínimos por ter atrasado a saída das alegorias do barracão para a Sapucaí. Já a Estácio de Sá deixou uma alegoria na dispersão após seu desfile e também foi penalizada pela diretoria da Lesga. 
Fonte: O Dia