CÂMARA DE SFI DEVE VOTAR HOJE PEDIDO DE AFASTAMENTO DE BETO

Câmara Municipal pode afastar por 90 dias o prefeito de São Francisco de Itabapoana, Beto Azevedo

Uma avalanche de pesadas denúncias na prefeitura de São Francisco de Itabapoana pode levar a Câmara de Vereadores a decidir, ainda na sessão de hoje. pelo afastamento do prefeito Beto Azevedo (PMDB). Os vereadores estão analisando uma série de graves irregularidades protocoladas na secretaria da Câmara pelo motorista e líder comunitário Jorge Lúcio Ferreira, o “Jorge Ponto de Prosa”, presidente da Associação de Moradores de Santa Clara e integrante do Conselho Municipal de Saúde, que envolvem o prefeito e colaboradores na Secretaria Municipal de Saúde.

Caso as denúncias sejam aceitas em plenário pela maioria, os vereadores deverão pedir o afastamento do prefeito por 90 dias para a averiguação dos fatos, ao mesmo tempo instaurar uma Comissão Processante para investigar as denúncias. O documento foi analisado na sessão da última terça-feira, mas em razão de um pedido de vista do vereador Sérgio Elias, a votação foi adiada para hoje. Caso Beto seja mesmo afastado, assumirá o vice-prefeito Frederico Barbosa Lemos.

Além de denúncia de uso da máquina pública para interesses pessoais do prefeito e alguns de seus prepostos, as peças principais de todo um esquema de corrupção e tráfico de influência na prefeitura, segundo as denúncias, são a Clínica Fênix e o Instituto Zeurina Azevedo (IZA), cujo nome é uma homenagem à mãe do prefeito. De acordo com as denúncias, Beto teria participação na sociedade da clínica, responsável por todos os exames clínicos e de imagens, além de proprietário do IZA.

A peça acusatória menciona também o atendimento médico sucateado, falta de medicamentos, oferta insuficiente de exames, apesar do alto preço pago a clínica conveniada no município, que permitiria amplo atendimento à população.

Relação promíscua entre público e privado

      Ex-secretário de Saúde, Fabiano Córdoba denunciado como “laranja”

O esquema envolve o ex-secretário de Saúde do município, Fabiano Córdoba, e o senhor conhecido como Fabel, que estariam sendo usados como “laranjas” do prefeito, possuindo em seus nomes e de seus parentes inúmeros imóveis pertencentes ao Chefe do Executivo. Fabiano foi exonerado do cargo no dia 10 de outubro deste ano depois de não resistir à crise no setor e o desgaste sofrido.

A torrente de denúncias acrescenta que os acusados, durante o mandato do prefeito, exibem padrão de vida, sinais exteriores de riqueza e evolução patrimonial incompatíveis com a renda comprovada. Entre os bens, barras de ouro, lanchas, imóveis, casas em outras áreas litorâneas e automóveis de luxo, um deles com cotação no valor de mercado de R$ 200 mil.

Cargos inexistentes - As denúncias incluem um esquema de apadrinhamento que corresponde a um amplo cabide de empregos na área da Saúde, com várias pessoas nomeadas para exercerem cargos que sequer existem na secretaria ou no organograma da prefeitura.
A propósito, o atual secretário de Saúde do município, Cristiano Salles Rodrigues, ao assumir o cargo, apontou a existência de funcionários fantasmas na prefeitura que impediam a eficiência da secretaria.

O dossiê destaca ainda as dívidas da prefeitura com as principais credoras, as distribuidoras de medicamentos Brasil Miracema, Espace Farma e Primos Farma, que somam R$ 1,5 milhão. O prefeito é também acusado de constantes viagens numa aeronave que seria de propriedade de uma das distribuidoras.

Denunciante teme que provas sejam escondidas

                             Manoel Carola: alvo de denúncias

No rol de desmandos, a direção do Hospital Manoel Carola é acusada de dificultar a realização de alguns exames internos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para que pacientes procurassem a Clinica Fênix para a realização dos procedimentos na unidade particular.

Segundo denúncias, a promiscuidade nas relações entre a clínica e a prefeitura era de tal ordem que o material utilizado para a reforma do hospital ficavam armazenados na unidade particular de saúde.

Entre as alegações para que o prefeito seja imediatamente afastado, o denunciante argumenta que a maior parte da documentação referente às denúncias se encontra na sede do município, podendo ser extraviada pelo denunciado (Beto Azevedo) tão logo tome ciência da instalação da Comissão Processante. “Não se pode esquecer que da última vez que o prefeito foi afastado, todo o município teve ciência  de que o prefeito e sua equipe retiraram toda documentação da administração, inclusive levando computadores, o que certamente, se voltar a ocorrer, irá trazer sérios prejuízos às investigações”. “Não bastasse a sociedade com a clínica, o município ainda é saqueado pelo Instituto Zeurina Azevedo (IZA), que é responsável pelos exames de colonoscopia e endoscopia, onde o controle e a regulação destes são feitos diretamente por uma senhora de pré-nome Regina. Na clínica, toda a sistemática dos exames está nas mãos de uma só pessoa”.   O enriquecimento dos amigos e sócios do prefeito, ainda de acordo com as denúncias, advém da parceria que consiste em receber por exames não realizados.

As despesas pagas pela prefeitura ao IZA, de acordo com Jorge Lúcio, não são sequer conferidas para depois serem pagas, tampouco feita qualquer prestação de contas sobre os serviços prestados pelo instituto, que estaria se utilizando de bens públicos para a realização de suas atividades. “Todos tem conhecimento que os veículos usados pelo instituto são de propriedade do Município, mas que são usados pelo IZA. Seus carros são abastecidos na bomba de gasolina da prefeitura, no pátio da Secretaria Municipal de Transporte, cujo secretário é cunhado do prefeito”.

Na Câmara, há uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura uma série de outras irregularidades denunciadas por vereadores. Embora a Secretaria de Saúde tivesse sido contemplada este ano com um montante de R$ 2,5 milhões em créditos suplementares, os vereadores apuram denúncias de falta de medicamentos, atrasos de salários e o empreguismo no setor.

Prefeito diz nada temer - Em nota divulgada ontem, o prefeito declarou não temer as denúncias de supostas irregularidades. Beto disse reconhecer como “legítima a decisão da Câmara de Vereadores ao instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias de irregularidades na área de saúde” e acrescenta ainda que defende uma “investigação ética e responsável”. Entretanto, “considera as denúncias vazias e levianas”. Por fim, acrescenta que “todos os setores da prefeitura, incluindo as áreas financeira, jurídica e a própria pasta da Saúde, foram orientados a fornecerem todas as informações solicitadas pela Comissão”.

Fonte:  O Jornal Diário